25 de março de 2013

Um dia após o outro

Pense comigo.
Um dia após o outro. Óbvio, não é?

Não é nada óbvio, é muito duro, árduo e trabalhoso. Lembramos bem onde tudo começou? Temos a memória viva de quando começamos a andar, que enorme desafio era simplesmente andar?

Provavelmente você não se lembra, nem eu. No meu caso tiraram fotos da época e guardaram para que eu mantivesse de certa forma a memória visual daquele instante.


Era muito pequena e queria me recostar, queria apoio, a mãozinha virada para trás, do tipo "segura a minha mão por favor".

E sempre o sorriso aberto no rosto que permanece até os dias de hoje.

Para andar para frente, eu tinha que me soltar e ir. Agora que andamos, tudo parece fácil. Mas não é nada fácil, é amedrontador sair do lugar e andar.

Há dias como aquele dia da minha tenra infância, dia de freios esquisitos e tudo fica estático, nada se mexe.

Por mais que se sacuda o corpo, tudo fica meio paralisado.


São esses dias que me fazem retornar à infância para entender uma vida inteira.

A minha foto - foto típica de várias gerações - tinha muitas carinhas risonha, pensativa, indagativa, choro, sorriso, caretas, mas cadê que eu olhava para a câmera? Eu precisava olhar bem de frente para a câmera e sorrir.

Exercício imprescindível. Não falo de sorriso com a boca, falo de sorriso com a alma, sorriso que vem do fundo.

Eterno exercício.
Precisamos acalmar a alma, nutrir o coração que está às vezes fica fraquinho, pedindo alimentação especial e suplementos.

Como fazer?
Alguém tem essa receita em especial?



Gosto de lembrar de coisas bonitas que podem até parecer tolas e que me dizem tanta coisa.

Ficar no colo do papai era muito gostoso. Como era bom o colo, como são bons todos os colos. E que falta faz a ausência de um colo.

Podia até me distrair que ele estava lá me segurando, me dando força, apoiando meu corpo.

Naquela hora, eu ganhava colo e meu pai me levantava, me colocava literalmente para cima.
Coisas tão boas, imagens tão serenas, tão inexplicavelmente falantes.



Depois, quando já tinha idade para sentar, ele me colocava em cima do móvel e me olhava para estar certo de que
e eu não cairia. Estava segura perto dele.

Eu não sou mais um bebê, meu pai não vê todos os meus passos e nem sempre é possível segurar e estar atento.

Hoje ando com os próprios pés. Simples, não?
Não é não.


Criar os próprios passos, criar um caminho saudável todos os dias  é incrível, não subestime nenhum passo que der.

Às vezes, é difícil dar um passo inteiro e voltamos.
Nem todo o dia é dia de muitos passos e muitos quilômetros.

Olho para mim na foto, batendo o pandeiro para animar os ossinhos e a vida e penso: onde está meu pandeiro?

Cada um precisa buscar seu pandeiro. O que faz a gente continuar, caminhar, sonhar, lutar?

O meu pandeiro fica num acha e esconde o tempo todo e o trabalho duro é mantê-lo achado e bem encontrado.

Todos nós precisamos de um pandeiro.

Tenho dois pandeirinhos gêmeos. Lindos, sincronizados, amorosos, amados.

Agora preciso achar um pandeiro grande que sacuda os ossos e me estimule a seguir. Um pandeiro dentro de mim.

Seria injusto colocar a responsabilidade de uma vida em duas pessoinhas (agora com 19 anos), tão no início da vida adulta.


Estou em busca do meu pandeiro.
Dedico a todos vocês que também buscam o seu pandeiro. Se alguém achar, me avise.
Eu agradeço.

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Beijos
Vera Lorenzo

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